quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O conceito capitalismo e alienação


Texto para trabalho das turmas 2007 e 2009. C. E. PAULO FREIRE.
O conceito de capitalismo: breves considerações acerca das interpretações marxista e weberiana.
Por Stanley Plácido da Rosa Silva.

A análise weberiana
Na introdução de A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber afirma que o Ocidente teria uma vantagem especial sobre os outros povos, ainda que estes possuíssem diversas qualidades: só o Ocidente seria "racional" em seus diversos campos, seja científico, artístico ou literário.
É a partir da idéia de "racionalização" que Weber buscará uma explicação da essência do capitalismo. Para o autor, a simples busca pelo ganho, pelo lucro, não caracterizaria o capitalismo, já que isso sempre teria existido nas diversas sociedades conhecidas. Segundo Weber, a ação econômica capitalista é "aquela que repousa na expectativa de lucros pela utilização das oportunidades de troca".[6] Partindo dessa premissa, identificará o capitalismo como existindo desde a Antiguidade e em diversos países, observando que
[...] o capitalismo e as empresas capitalísticas [...] existiram em todos os países civilizados do planeta, até onde a documentação econômica nos permite avaliar; isso na China, na Índia, na Babilônia, no Egito, na Antiguidade mediterrânea e na Idade Média, tanto quanto nos tempos modernos. [...] a empresa capitalista e o empresário capitalista, não só como ocasionais, mas como empreendimentos estáveis, são muito antigos e difundidos pelo mundo. [7]
Identificando o capitalismo na esfera da circulação, isto é, a partir das trocas, Weber acaba estendendo o conceito de capitalismo a diversas regiões e temporalidades. No entanto, para o autor o Ocidente teria uma forma peculiar de capitalismo, mais moderna, que seria marcada pela "racionalização do trabalho livre", fazendo com que só no Ocidente existisse o burguês e o proletário. [8] (Ibidem, p. 28-30)
Buscando as origens da racionalidade capitalista ocidental, Weber constatou que as profissões especializadas, mesmo em locais de maioria católica, eram de origem protestante, talvez reflexo do fato de os católicos preferirem uma educação mais humanística e os protestantes uma educação mais "utilitária".
Dessa forma, o espírito do capitalismo moderno, entendido como a busca metódica pelo lucro, estaria intrinsecamente ligado ao desenvolvimento do protestantismo ocidental, em especial o calvinismo e as seitas dele derivadas que, devido à sua educação religiosa, submetida a um controle sobre o cotidiano dos fiéis maior que o praticado pelo catolicismo, teriam predisposição a se adaptarem ao trabalho que oferecesse altos lucros.[9]
A explicação dada por Weber para a tal "predisposição" protestante ao trabalho teria sua origem estaria na concepção de "vocação" dada por Lutero ao trabalho. Embora Lutero não fosse favorável à busca persistente pelo lucro ele considerava a vocação como dádiva divina, Logo, todos os ofícios teriam igual valor perante seus olhos e o cristão deveria desempenhá-los da melhor maneira possível, pois isso seria agradável aos olhos de Deus, constituindo-se em uma forma de servi-lo[10]. Como observa Rusconi,
A ascese intramundana atua com energia contra qualquer forma de prazer, luxo, esbanjamento ou exibição da riqueza, com a consequente redução dos consumos e poupança de dinheiro e de bens, disponíveis para uma acumulação e um reinvestimento do tipo capitalista. Uma riqueza considerada como prêmio para uma prudente administração dos bens recebidos por Deus [...][11] (RUSCONI, 1998, p. 143).
Weber constata que para as religiões estudadas, a riqueza em si não era ruim, mas o possível relaxamento moral que elas poderiam proporcionar. Na concepção puritana, o trabalho serviria para livrar-se das tentações - inclusive as sexuais - e seriam, em última instância, a finalidade da vida. O trabalho, independentemente de sua lucratividade, seria sempre agradável a Deus, devendo-se mudar de vocação apenas se para glorificá-lo. Até mesmo o esporte só seria aceitável se para fins de saúde, jamais pelo simples divertimento. Com tantas recomendações e privações, não é de se estranhar que, além de conforto, a ética puritana tenha propiciado ao burguês um proletariado sóbrio e dedicado às suas tarefas nas regiões dominadas pelo protestantismo.[12]

A análise marxista
Na obra O Capital, Karl Marx procura fazer uma análise da dinâmica da produção e da reprodução do capital. Analisando a questão da mercadoria, o autor alerta para o fato de que a mercadoria não tem valor em si, mas é o trabalho nela despendido que o quantifica. Para trabalhos de natureza diferentes, existiriam diferentes valores de uso, onde este sendo complexo ou não, sempre haveria um valor atribuído a ele. A simples diminuição do tempo gasto na produção de determinada mercadoria "tenderia" a reduzir o valor da mesma. Logo, é também através do trabalho humano que existiria a mensurabilidade da mercadoria, visto que se comparadas entre si - as mercadorias - tal operação não seria possível. Equiparar diferentes mercadorias significaria, na verdade, equiparar o trabalho humano. [13]
Ao equiparar seus produtos de diferentes espécies na troca, como valores, equiparam seus diferentes trabalhos como trabalho humano. [...] O que somente vale para esta forma particular de produção, a produção de mercadorias, a saber, o caráter especificamente social dos trabalhos privados, independentes entre si, consiste na sua igualdade como trabalho humano [...] (Ibidem, p. 72)
No capitalismo o dinheiro resultante do comércio não tem um fim em si mesmo. O dinheiro resultante da troca sempre se transformará em capital novamente. A premissa básica do capitalista é comprar para vender e, assim, ganhar mais dinheiro (capital). Não obstante, para Marx esse aumento de capital não se dá na esfera da circulação, pois para que a mais-valia ocorresse na compra ou na venda de mercadorias por um valor maior, seria preciso que fossemos só compradores ou só vendedores.
Para Marx, a mais - valia se dá na exploração da força de trabalho, que também se transforma em mercadoria quando é vendida. Qual seria então o valor da força-trabalho, visto que se tornou mercadoria? Segundo o autor, esse valor corresponde à soma das mercadorias necessárias à sua subsistência.
O limite último ou limite mínimo do valor da força de trabalho é constituído pelo valor de uma massa de mercadorias, sem cujo suprimento diário o portador da força de trabalho, o homem, não pode renovar o seu processo de vida, sendo, portanto o valor dos meios de subsistência fisicamente indispensáveis. Se o preço da força de trabalho baixa a esse mínimo, então ele cai abaixo do valor dela, pois assim ela só pode se manter de forma atrofiada. Mas o valor de cada mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho requerido para fornecê-la com sua qualidade normal.
Segundo Marx, o que ocorre é a completa exploração do trabalhador, em benefício do capitalista. Tem-se a falsa impressão de que a relação trabalho-capital (central no modo de produção capitalista) é livre. De forma implícita, existe uma coerção econômica que obriga o trabalhador - desprovido dos meios de produção - a vender sua força de trabalho ao capitalista.
A igualdade capitalista se daria apenas - teoricamente - no plano jurídico, não no plano econômico. Restaria ao trabalhador, portanto, duas opções: vender sua força de trabalho ou morrer de fome: esta seria a liberdade das sociedades capitalistas.[16] Assim, segundo Rusconi, na análise marxista "o capitalismo se baseia na relação entre trabalho assalariado e capital, mas exatamente na valorização do capital através da mais-valia extorquida do trabalhador.[17]
Analisando as matrizes interpretativas sobre o capitalismo, Dobb argumenta que a definição de Weber tem certa proximidade com a de Sombart quanto à definição do que seria o capitalismo moderno. Não obstante, o autor declina na utilização do termo "capitalismo" conforme o utiliza Weber como também aquele em que o caracteriza pela produção para um mercado distante. A razão para isso se daria por que tal conceituação o caracterizaria enfatizando o aspecto monetário, dando margem a encontrarem-se economias capitalistas em diversos períodos históricos.
Para Dobb, a definição que mais parece coerente é dada a partir de Marx, onde as relações de produção, isto é, a expropriação dos bens de produção do trabalhador e a transformação deste em mercadoria é que caracterizariam o capitalismo. O mérito dessa definição, em contraposição à anterior seria que
[...] a existência do comércio e do empréstimo a dinheiro, bem como a presença de uma classe especializada de comerciantes ou financistas, ainda que fossem homens de posses, não basta para constituir uma sociedade capitalista. Os homens de capital, por mais aquisitivos, não bastam - seu capital tem de ser usado na sujeição da mão-de-obra à criação de mais valia na produção. (Ibidem, p. 19)
Dobb não está sozinho em sua interpretação e sua linha de raciocínio foi seguida, também, por Bottomore. Para esse autor, o capitalismo pode ser definido como "modo de produção em que o capital, sob suas diferentes formas, é o principal meio de produção [...] é a propriedade privada do capital nas mãos de uma classe, a classe dos capitalistas, com a exclusão do restante da população." Assim, novamente a questão da expropriação dos trabalhadores é vista como central na interpretação e na definição do capitalismo.

Considerações Finais
Segundo Mendonça, "no campo das ciências sociais, sobretudo, nenhuma escolha de palavrasé ingênua ou neutra." Logo, a definição de capitalismo baseado na esfera da circulação, mascara a característica principal do capitalismo enquanto modo de produção, isto é, a existência de uma classe detentora do capital e outra desprovida de capital que, em nome da subsistência, oferece sua mão de obra em troca de um pagamento.
A análise weberiana, centrada na racionalidade capitalística não dá vez ao trabalhador nem expõe a forma encontrada pela burguesia para acumular o lucro. Tem-se a impressão de que o ascetismo protestante cria uma legião de trabalhadores fadados à bem-aventurança, como se todos pudessem alcançar a ascensão social simplesmente pelo trabalho. É óbvio que não se deve desconsiderar o impacto que uma vida praticamente espartana pode ter na melhora da condição de vida de uma pessoa. Contudo, o que mais ocorre é o contrário: a concentração de renda tende a aumentar e a massa de excluídos idem.
Sendo assim, mais que uma mera questão de hermenêutica, identificar o sentido correto de um conceito é fundamental em uma análise histórica, sociológica ou política, tendo sido esse, ainda que de forma sumária, o objetivo central desse texto.

FONTE.

Capital, Trabalho e Alienação, segundo Karl Marx. Por João Francisco P. Cabral.
Segundo Marx, a relação capital, trabalho e alienação promovem a coisificação ou reificação do mundo, tornando-o objetivo, sendo que suas regras devem ser seguidas passivamente pelos seus componentes.
De acordo com Marx, capital e trabalho apresentam um movimento constituído de três momentos fundamentais:
Primeiro, “a unidade imediata e mediata de ambos”; significa que num primeiro momento estão unidos, separam-se depois e tornam-se estranhos um ao outro, mas sustentando-se reciprocamente e promovendo-se um ao outro como condições positivas;
Em segundo lugar, “a oposição de ambos”, já que se excluem reciprocamente e o operário conhece o capitalista como a negação da sua existência e vice-versa;
Em terceiro e último lugar, “a oposição de cada um contra si mesmo”, já que o capital é simultaneamente ele próprio e o seu oposto contraditório, sendo trabalho (acumulado); e o trabalho, por sua vez, é ele próprio e o seu oposto contraditório, sendo mercadoria, isto é, capital.
Já a alienação ou estranhamento é descrita por Marx sob quatro aspectos:
1. O trabalhador é estranho ao produto de sua atividade, que pertence a outro. Isto tem como consequência que o produto se consolida, perante o trabalhador, como um “poder independente”, e que, “quanto mais o operário se esgota no trabalho, tanto mais poderoso se torna o mundo estranho, objetivo, que ele cria perante si, mais ele se torna pobre e menos o mundo interior lhe pertence”;
2. A alienação do trabalhador relativamente ao produto da sua atividade surge, ao mesmo tempo, vista do lado da atividade do trabalhador, como alienação da atividade produtiva. Esta deixa de ser uma manifestação essencial do homem, para ser um “trabalho forçado”, não voluntário, mas determinado pela necessidade externa. Por isso, o trabalho deixa de ser a “satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio para satisfazer necessidades externas a ele”. O trabalho não é uma feliz confirmação de si e desenvolvimento de uma livre energia física e espiritual, mas antes sacrifício de si e mortificação. A consequência é uma profunda degeneração dos modos do comportamento humano;
3. Com a alienação da atividade produtiva, o trabalhador aliena-se também do gênero humano. A perversão que separa as funções animais do resto da atividade humana e faz delas a finalidade da vida, implica a perda completa da humanidade. A livre atividade consciente é o caráter específico do homem; a vida produtiva é vida “genérica”. Mas a própria vida surge no trabalho alienado apenas como meio de vida. Além disso, a vantagem do homem sobre o animal – isto é, o fato de o homem poder fazer de toda natureza extra-humana o seu “corpo inorgânico” – transforma-se, devido a esta alienação, numa desvantagem, uma vez que escapa cada vez mais ao homem, ao operário, o seu “corpo inorgânico”, quer como alimento do trabalho, quer como alimento imediato, físico;
4. A consequência imediata desta alienação do trabalhador da vida genérica, da humanidade, é a alienação do homem pelo homem. “Em geral, a proposição de que o homem se tornou estranho ao seu ser, enquanto pertencente a um gênero, significa que um homem permaneceu estranho a outro homem e que, igualmente, cada um deles se tornou estranho ao ser do homem”. Esta alienação recíproca dos homens tem a manifestação mais tangível na relação operário-capitalista.
É dessa forma, portanto, que se relacionam capital, trabalho e alienação, promovendo a coisificação ou reificação do mundo, isto é, tornando-o objetivo, sendo que suas regras devem ser seguidas passivamente pelos seus componentes. A tomada de consciência de classe e a revolução são as únicas formas para a transformação social.

Fonte:

Site com boas imagens sobre a alienação no trabalho.

ALIENAÇÃO É um termo criado pelo marxismo... Em linhas gerais significa a perda da autonomia, do conhecimento, do domínio sobre o que fazia e do poder de decisão que o trabalhador possuía antes da revolução industrial... Um exemplo disso foram os artesãos, os quais foram à ruína em sua maioria e tiveram que sujeitar-se a ser empregados, ou seja, perderam tudo aquilo que citei... Não eram mais dono de seu horário, nem de seu tempo, nem do que ganhava...o empregado perdeu o domínio sobre o conhecimento do que fazia...agora, como operador ou auxiliar de produção, apenas monta ou auxilia na montagem de uma pequena parte ou componente da mercadoria...

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