Texto para trabalho das turmas 2007 e 2009. C. E. PAULO FREIRE.
O conceito de capitalismo:
breves considerações acerca das interpretações marxista e weberiana.
Por Stanley Plácido da Rosa Silva.
A análise weberiana
Na introdução de A ética
protestante e o espírito do capitalismo, Weber afirma que o Ocidente teria
uma vantagem especial sobre os outros povos, ainda que estes possuíssem
diversas qualidades: só o Ocidente seria "racional" em seus diversos
campos, seja científico, artístico ou literário.
É a partir da idéia de
"racionalização" que Weber buscará uma explicação da essência do
capitalismo. Para o autor, a simples busca pelo ganho, pelo lucro, não
caracterizaria o capitalismo, já que isso sempre teria existido nas diversas
sociedades conhecidas. Segundo Weber, a ação econômica capitalista é
"aquela que repousa na expectativa de lucros pela utilização das
oportunidades de troca".[6]
Partindo dessa premissa, identificará o capitalismo como existindo desde a
Antiguidade e em diversos países, observando que
[...] o capitalismo e as empresas
capitalísticas [...] existiram em todos os países civilizados do planeta, até
onde a documentação econômica nos permite avaliar; isso na China, na Índia, na
Babilônia, no Egito, na Antiguidade mediterrânea e na Idade Média, tanto quanto
nos tempos modernos. [...] a empresa capitalista e o empresário capitalista,
não só como ocasionais, mas como empreendimentos estáveis, são muito antigos e
difundidos pelo mundo. [7]
Identificando o capitalismo na
esfera da circulação, isto é, a partir das trocas, Weber acaba estendendo o
conceito de capitalismo a diversas regiões e temporalidades. No entanto, para o
autor o Ocidente teria uma forma peculiar de capitalismo, mais moderna, que
seria marcada pela "racionalização do trabalho livre", fazendo com
que só no Ocidente existisse o burguês e o proletário. [8] (Ibidem, p. 28-30)
Buscando as origens da racionalidade
capitalista ocidental, Weber constatou que as profissões especializadas, mesmo
em locais de maioria católica, eram de origem protestante, talvez reflexo do
fato de os católicos preferirem uma educação mais humanística e os protestantes
uma educação mais "utilitária".
Dessa forma, o espírito do
capitalismo moderno, entendido como a busca metódica pelo lucro, estaria
intrinsecamente ligado ao desenvolvimento do protestantismo ocidental, em
especial o calvinismo e as seitas dele derivadas que, devido à sua educação
religiosa, submetida a um controle sobre o cotidiano dos fiéis maior que o
praticado pelo catolicismo, teriam predisposição a se adaptarem ao trabalho que
oferecesse altos lucros.[9]
A explicação dada por Weber para a
tal "predisposição" protestante ao trabalho teria sua origem estaria
na concepção de "vocação" dada por Lutero ao trabalho. Embora Lutero
não fosse favorável à busca persistente pelo lucro ele considerava a vocação
como dádiva divina, Logo, todos os ofícios teriam igual valor perante seus
olhos e o cristão deveria desempenhá-los da melhor maneira possível, pois isso
seria agradável aos olhos de Deus, constituindo-se em uma forma de servi-lo[10].
Como observa Rusconi,
A ascese intramundana atua com
energia contra qualquer forma de prazer, luxo, esbanjamento ou exibição da
riqueza, com a consequente redução dos consumos e poupança de dinheiro e de
bens, disponíveis para uma acumulação e um reinvestimento do tipo capitalista.
Uma riqueza considerada como prêmio para uma prudente administração dos bens
recebidos por Deus [...][11]
(RUSCONI, 1998, p. 143).
Weber constata que para as religiões
estudadas, a riqueza em si não era ruim, mas o possível relaxamento moral que
elas poderiam proporcionar. Na concepção puritana, o trabalho serviria para
livrar-se das tentações - inclusive as sexuais - e seriam, em última instância,
a finalidade da vida. O trabalho, independentemente de sua lucratividade, seria
sempre agradável a Deus, devendo-se mudar de vocação apenas se para
glorificá-lo. Até mesmo o esporte só seria aceitável se para fins de saúde,
jamais pelo simples divertimento. Com tantas recomendações e privações, não é
de se estranhar que, além de conforto, a ética puritana tenha propiciado ao
burguês um proletariado sóbrio e dedicado às suas tarefas nas regiões dominadas
pelo protestantismo.[12]
A análise marxista
Na obra O Capital, Karl Marx
procura fazer uma análise da dinâmica da produção e da reprodução do capital.
Analisando a questão da mercadoria, o autor alerta para o fato de que a
mercadoria não tem valor em si, mas é o trabalho nela despendido que o
quantifica. Para trabalhos de natureza diferentes, existiriam diferentes
valores de uso, onde este sendo complexo ou não, sempre haveria um valor
atribuído a ele. A simples diminuição do tempo gasto na produção de determinada
mercadoria "tenderia" a reduzir o valor da mesma. Logo, é também
através do trabalho humano que existiria a mensurabilidade da mercadoria, visto
que se comparadas entre si - as mercadorias - tal operação não seria possível.
Equiparar diferentes mercadorias significaria, na verdade, equiparar o trabalho
humano. [13]
Ao equiparar seus produtos de
diferentes espécies na troca, como valores, equiparam seus diferentes trabalhos
como trabalho humano. [...] O que somente vale para esta forma particular de
produção, a produção de mercadorias, a saber, o caráter especificamente social
dos trabalhos privados, independentes entre si, consiste na sua igualdade como
trabalho humano [...] (Ibidem, p. 72)
No capitalismo o dinheiro resultante
do comércio não tem um fim em si mesmo. O dinheiro resultante da troca sempre
se transformará em capital novamente. A premissa básica do capitalista é
comprar para vender e, assim, ganhar mais dinheiro (capital). Não obstante,
para Marx esse aumento de capital não se dá na esfera da circulação, pois para
que a mais-valia ocorresse na compra ou na venda de mercadorias por um valor
maior, seria preciso que fossemos só compradores ou só vendedores.
Para Marx, a mais - valia se dá na
exploração da força de trabalho, que também se transforma em mercadoria quando
é vendida. Qual seria então o valor da
força-trabalho, visto que se tornou mercadoria? Segundo o autor, esse valor
corresponde à soma das mercadorias necessárias à sua subsistência.
O limite último ou limite mínimo do
valor da força de trabalho é constituído pelo valor de uma massa de
mercadorias, sem cujo suprimento diário o portador da força de trabalho, o
homem, não pode renovar o seu processo de vida, sendo, portanto o valor dos
meios de subsistência fisicamente indispensáveis. Se o preço da força de
trabalho baixa a esse mínimo, então ele cai abaixo do valor dela, pois assim
ela só pode se manter de forma atrofiada. Mas o valor de cada mercadoria é
determinado pelo tempo de trabalho requerido para fornecê-la com sua qualidade
normal.
Segundo Marx, o que ocorre é a
completa exploração do trabalhador, em benefício do capitalista. Tem-se a falsa
impressão de que a relação trabalho-capital (central no modo de produção
capitalista) é livre. De forma implícita, existe uma coerção econômica que
obriga o trabalhador - desprovido dos meios de produção - a vender sua força de
trabalho ao capitalista.
A igualdade capitalista se daria
apenas - teoricamente - no plano jurídico, não no plano econômico. Restaria ao
trabalhador, portanto, duas opções: vender sua força de trabalho ou morrer de
fome: esta seria a liberdade das sociedades capitalistas.[16]
Assim, segundo Rusconi, na análise marxista "o capitalismo se baseia na
relação entre trabalho assalariado e capital, mas exatamente na valorização do
capital através da mais-valia extorquida do trabalhador.[17]
Analisando as matrizes
interpretativas sobre o capitalismo, Dobb argumenta que a definição de Weber
tem certa proximidade com a de Sombart quanto à definição do que seria o
capitalismo moderno.
Não obstante, o autor declina na utilização do termo "capitalismo"
conforme o utiliza Weber como também aquele em que o caracteriza pela produção
para um mercado distante. A razão para isso se daria por que tal conceituação o
caracterizaria enfatizando o aspecto monetário, dando margem a encontrarem-se
economias capitalistas em diversos períodos históricos.
Para Dobb, a definição que mais
parece coerente é dada a partir de Marx, onde as relações de produção, isto é,
a expropriação dos bens de produção do trabalhador e a transformação deste em
mercadoria é que caracterizariam o capitalismo. O mérito dessa definição, em
contraposição à anterior seria que
[...] a existência do comércio e do
empréstimo a dinheiro, bem como a presença de uma classe especializada de
comerciantes ou financistas, ainda que fossem homens de posses, não basta para
constituir uma sociedade capitalista. Os homens de capital, por mais
aquisitivos, não bastam - seu capital tem de ser usado na sujeição da
mão-de-obra à criação de mais valia na produção.
(Ibidem, p. 19)
Dobb não está sozinho em sua
interpretação e sua linha de raciocínio foi seguida, também, por Bottomore.
Para esse autor, o capitalismo pode ser definido como "modo de produção em
que o capital, sob suas diferentes formas, é o principal meio de produção [...]
é a propriedade privada do capital nas mãos de uma classe, a classe dos
capitalistas, com a exclusão do restante da população."
Assim, novamente a questão da expropriação dos trabalhadores é vista como
central na interpretação e na definição do capitalismo.
Considerações Finais
Segundo Mendonça, "no campo das
ciências sociais, sobretudo, nenhuma escolha de palavrasé ingênua ou
neutra."
Logo, a definição de capitalismo baseado na esfera da circulação, mascara a
característica principal do capitalismo enquanto modo de produção, isto é, a
existência de uma classe detentora do capital e outra desprovida de capital
que, em nome da subsistência, oferece sua mão de obra em troca de um pagamento.
A análise weberiana, centrada na
racionalidade capitalística não dá vez ao trabalhador nem expõe a forma
encontrada pela burguesia para acumular o lucro. Tem-se a impressão de que o
ascetismo protestante cria uma legião de trabalhadores fadados à
bem-aventurança, como se todos pudessem alcançar a ascensão social simplesmente
pelo trabalho. É óbvio que não se deve desconsiderar o impacto que uma vida
praticamente espartana pode ter na melhora da condição de vida de uma pessoa.
Contudo, o que mais ocorre é o contrário: a concentração de renda tende a
aumentar e a massa de excluídos idem.
Sendo assim, mais que uma mera
questão de hermenêutica, identificar o sentido correto de um conceito é
fundamental em uma análise histórica, sociológica ou política, tendo sido esse,
ainda que de forma sumária, o objetivo central desse texto.
FONTE.
Capital, Trabalho e Alienação,
segundo Karl Marx. Por João Francisco P. Cabral.
Segundo Marx, a relação capital, trabalho e
alienação promovem a coisificação ou reificação do mundo, tornando-o objetivo,
sendo que suas regras devem ser seguidas passivamente pelos seus componentes.
De
acordo com Marx, capital e trabalho apresentam um movimento constituído de três
momentos fundamentais:
Primeiro,
“a unidade imediata e mediata de ambos”; significa que num primeiro momento
estão unidos, separam-se depois e tornam-se estranhos um ao outro, mas
sustentando-se reciprocamente e promovendo-se um ao outro como condições
positivas;
Em
segundo lugar, “a oposição de ambos”, já que se excluem reciprocamente e o
operário conhece o capitalista como a negação da sua existência e vice-versa;
Em
terceiro e último lugar, “a oposição de cada um contra si mesmo”, já que o
capital é simultaneamente ele próprio e o seu oposto contraditório, sendo
trabalho (acumulado); e o trabalho, por sua vez, é ele próprio e o seu oposto
contraditório, sendo mercadoria, isto é, capital.
Já
a alienação ou estranhamento é descrita por Marx sob quatro aspectos:
1.
O trabalhador é estranho ao produto de sua atividade, que pertence a outro.
Isto tem como consequência que o produto se consolida, perante o trabalhador,
como um “poder independente”, e que, “quanto mais o operário se esgota no
trabalho, tanto mais poderoso se torna o mundo estranho, objetivo, que ele cria
perante si, mais ele se torna pobre e menos o mundo interior lhe pertence”;
2.
A alienação do trabalhador relativamente ao produto da sua atividade surge, ao
mesmo tempo, vista do lado da atividade do trabalhador, como alienação da
atividade produtiva. Esta deixa de ser uma manifestação essencial do homem,
para ser um “trabalho forçado”, não voluntário, mas determinado pela
necessidade externa. Por isso, o trabalho deixa de ser a “satisfação de uma
necessidade, mas apenas um meio para satisfazer necessidades externas a ele”. O
trabalho não é uma feliz confirmação de si e desenvolvimento de uma livre
energia física e espiritual, mas antes sacrifício de si e mortificação. A
consequência é uma profunda degeneração dos modos do comportamento humano;
3.
Com a alienação da atividade produtiva, o trabalhador aliena-se também do
gênero humano. A perversão que separa as funções animais do resto da atividade
humana e faz delas a finalidade da vida, implica a perda completa da humanidade.
A livre atividade consciente é o caráter específico do homem; a vida produtiva
é vida “genérica”. Mas a própria vida surge no trabalho alienado apenas como
meio de vida. Além disso, a vantagem do homem sobre o animal – isto é, o fato
de o homem poder fazer de toda natureza extra-humana o seu “corpo inorgânico” –
transforma-se, devido a esta alienação, numa desvantagem, uma vez que escapa
cada vez mais ao homem, ao operário, o seu “corpo inorgânico”, quer como
alimento do trabalho, quer como alimento imediato, físico;
4.
A consequência imediata desta alienação do trabalhador da vida genérica, da
humanidade, é a alienação do homem pelo homem. “Em geral, a proposição de que o
homem se tornou estranho ao seu ser, enquanto pertencente a um gênero, significa
que um homem permaneceu estranho a outro homem e que, igualmente, cada um deles
se tornou estranho ao ser do homem”. Esta alienação recíproca dos homens tem a
manifestação mais tangível na relação operário-capitalista.
É
dessa forma, portanto, que se relacionam capital, trabalho e alienação,
promovendo a coisificação ou reificação do mundo, isto é, tornando-o objetivo,
sendo que suas regras devem ser seguidas passivamente pelos seus componentes. A
tomada de consciência de classe e a revolução são as únicas formas para a
transformação social.
Fonte:
Site com boas imagens sobre a
alienação no trabalho.
ALIENAÇÃO É um termo criado
pelo marxismo... Em linhas gerais significa a perda da autonomia, do
conhecimento, do domínio sobre o que fazia e do poder de decisão que o
trabalhador possuía antes da revolução industrial... Um exemplo disso foram os
artesãos, os quais foram à ruína em sua maioria e tiveram que sujeitar-se a ser
empregados, ou seja, perderam tudo aquilo que citei... Não eram mais dono de
seu horário, nem de seu tempo, nem do que ganhava...o empregado perdeu o
domínio sobre o conhecimento do que fazia...agora, como operador ou auxiliar de
produção, apenas monta ou auxilia na montagem de uma pequena parte ou
componente da mercadoria...
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