quarta-feira, 31 de outubro de 2012

TEXTO P/ TURMA 1011- CE PAULO FREIRE-SENSO COMUM



C. E. PAULO FREIRE. – Professor Antonio Nelson – Disciplina – Filosofia – 1ª Serie – Ensino Médio.

Senso comum.

Na filosofia, o senso comum (ou conhecimento vulgar) é a primeira suposta compreensão do mundo resultante da herança fecunda de um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. O senso comum descreve as crenças e proposições que aparecem como normal, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar verdades mais profundas como as científicas.
Um tipo de conhecimento que se acumula no nosso cotidiano e é chamado de senso comum, baseado na tentativa e no erro. O senso comum que nos permite sentir uma realidade menos detalhada, menos profunda e imediata e vai do hábito de realizar um comportamento até a tradição que, quando instalada, passa de geração para geração.
No senso comum não há análise profunda e sim uma espontaneidade de ações relativa aos limites do conhecimento do indivíduo que vão passando por gerações; o senso comum é o que as pessoas comuns usam no seu cotidiano, o que é natural e fácil de entender, o que elas pensam que seja verdade e que lhe traga resultados práticos herdados pelos costumes.
Existem pessoas que confundem senso comum com crença, embora sejam coisas bem diferentes. Senso comum é aquilo que aprendemos em nosso dia a dia e que não precisamos aprofundar para obter resultados, como por exemplo: uma pessoa vai atravessar uma pista; ela olha para os dois lados, mas não precisa calcular a velocidade média, a distância, ou o atrito que o carro exerce sobre o solo. Ela simplesmente olha e decide se dá para atravessar ou se deve esperar. Logo, o senso comum é um ato de agir e pensar que tem raízes culturais e sociais.
O senso comum é visto como a compreensão de todas as coisas por meio do saber social, ou seja, é o saber que se adquire através de experiências vividas ou ouvidas do cotidiano. Englobam costumes, hábitos, tradições, normas, éticas e tudo aquilo que se necessita para viver bem.
No senso comum não é necessário que haja um parecer científico para que se comprove o que é dito, é um saber informal que se origina de opiniões de um determinado indivíduo ou grupo que é avaliado conforme o efeito que produz nas pessoas. É um saber imediato, subjetivo, heterogêneo e acrítico, pois se conforma com o que é dito para se realizar, utiliza várias ideias e não busca conhecimento científico para ser comprovado.
De maneira espontânea e sem querer as pessoas utilizam o senso comum a quase todo o momento:
O senso comum difere-se em alguns aspectos com a ciência, pois a ciência busca a verdade em todas as coisas por meio de testes e comprovações, enquanto o senso comum é utilizado antes mesmo que se saiba se o método empregado traz o que se espera. A ciência é objetiva, busca critérios, avalia, busca leis de funcionamento, reúne a individualidade existente em cada lei para formar uma só estrutura e isso sem procurar semelhança entre elas, se renova se modifica e busca sempre se firmar no conhecimento.

Doxa x Episteme.
Doxa é uma palavra grega que significa crença comum ou opinião popular e de onde se originaram as palavras modernas ortodoxo e heterodoxo. Utilizada pelos retóricos gregos como ferramenta para formação de argumentos através de opiniões comuns, a doxa (em oposição ao saber verdadeiro, episteme) foi utilizada pelos sofistas para persuadir as pessoas, levando Platão a condenar a democracia ateniense.
Episteme: 1) conhecimento (verdadeiro e científico) (oposto a doxa); 2) um corpo organizado de conhecimento, uma ciência; 3) conhecimento teorético. Segundo o platonismo, designa o conhecimento verdadeiro, racional e científico, em contrapartida à opinião infundada ou irrefletida.
Segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926 - 1994), episteme é o paradigma comum aos diversos saberes humanos em uma determinada época que, por se embasarem numa mesma estrutura, compartilham as mesmas características gerais, independentemente de suas diferenças específicas.

Reflexão Filosófica e Atitude Filosófica.
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo.
A reflexão filosófica é tida como radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.
A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas relações. A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões:
01. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos?
02. O que queremos pensar quando pensamos o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?
03. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?
Essas três questões podem ser resumidas em: o que é pensar, falar e agir? E elas pressupõem a seguinte pergunta: nossas crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um conhecimento? A atitude filosófica inicia-se indagando: o que é? Como é? Por que é? Dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas.
A reflexão filosófica, por sua vez, indaga: por quê? O quê? Para quê? Dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.
A atitude filosófica não é uma atitude natural. Qualquer indivíduo de forma imediata face à realidade não começa a examiná-la de forma especulativa. Pelo contrário, o que é natural é que se sentem na resolução problemas práticos, que se guie pelo senso comum,  tendo em vista resolver certas necessidades imediatas ou interesses concretos (atitude natural). Ninguém pode viver sem se adaptar constantemente às condições do seu mundo. Estas exigências de sobrevivência tendem, naturalmente  a sobrepor-se a todas as outras preocupações.
Embora o homem seja inseparável das suas circunstâncias, não pode todavia ser reduzido a uma mero produto das mesmas. Ele está permanentemente a ser confrontado com  novos problemas que o colocam perante novas situações imprevisíveis, e que o obrigam a alargar os seus horizontes de compreensão da realidade. Cada mudança pode representar, assim, uma nova possibilidade para ampliar o conhecimento. Trata-se de uma possibilidade,  não algo que necessariamente tenha que acontecer a todos os homens nas mesmas circunstâncias e em todas as ocasiões.
 Estas mudanças frequentemente inquietam-nos ou maravilham-nos, despertando a nossa curiosidade sobre o porquê das coisas, levando-nos a questionar o que nos rodeia. Ao fazê-lo estamos a distanciarmo-nos da  realidade, que de repente se tornou estranha ou mesmo enigmática. Esta atitude reflexiva, pode-nos conduzir a uma atitude mais radical, a atitude filosófica.
 A atitude filosófica se decorre do quotidiano, não é todavia ao mesmo redutível. Não é fácil caracterizá-la, dada a enorme diversidade de aspectos que pode assumir. Vejamos apenas quatro aspectos que caracterizam a atitude filosófica:
O espanto. Aristóteles afirmava que a filosofia tinha a sua origem no espanto, na estranheza e perplexidade que os homens sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É o espanto que os leva a formularem perguntas e os conduz à procura das respectivas soluções. Como refere Eugen Fink o espanto torna o evidente em algo incompreensível, o vulgar extraordinário.
A duvida. Ao filósofo exige-se que duvide de tudo aquilo é assumido como uma verdade adquirida. Ao duvidar este se distancia das coisas, quebrando desta forma a sua relação de familiaridade com as coisas. O que era natural torna-se problemático. O que então emerge é uma dimensão inquietante de insatisfação e problematização. A reflexão começa exatamente a partir do exame daquilo que se pensa ser verdadeiro.  Se nunca duvidarmos de nada  nunca saberes o fundamento daquilo em que acreditamos, mas também jamais pensaremos pela nossa cabeça.
O rigor. O questionamento radical que anima o verdadeiro filósofo, não é mais do que um ato preparatório para fundar um novo saber sobre bases mais sólidas. A crítica filosófica é por isso radical, não admite compromissos com as ambiguidades, as ideias contraditórias, os termos imprecisos.
A insatisfação. A filosofia revela-se uma desilusão para quem quiser encontrar nela respostas para as suas inquietações. O que o aprendiz de filósofo encontra na filosofia são perguntas, problemas e incitamentos para que não confie em nenhuma autoridade exterior à sua razão, para que duvide das aparências e do senso comum. A única "receita" que os filósofos lhe dão é que faça da procura do saber um modo de vida. Não se satisfaça com nenhuma conclusão, queira saber sempre mais e mais.