A palavra filosofia é de origem grega e
significa amor à sabedoria. Ela surge desde o momento em que o homem começou a
refletir sobre o funcionamento da vida e do universo, buscando uma solução para
as grandes questões da existência humana, através de explicações racionais para
tudo aquilo que era explicado através da mitologia, oferecendo caminhos,
respostas e, sobretudo, propondo novas perguntas, num diálogo permanente com a
sociedade e a cultura do tempo em que faça parte.
A
palavra "filosofia" (do grego) resulta da união de outras duas
palavras: "philia", que significa "amizade", "amor
fraterno" (não no sentido erótico) e respeito entre os iguais e "Sophia",
que significa "sabedoria", "conhecimento". De
"Sophia" decorre a palavra "sophos", que significa
"sábio", "instruído". Filosofia significa, portanto,
amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Assim, o
"filósofo" seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo
saber, deseja saber.
Historicamente, a filosofia, tal como a conhecemos,
inicia com Tales de Mileto. Tales foi o primeiro dos filósofos pré-socráticos,
aqueles que buscavam explicar todas as coisas através de um ou poucos princípios.
Ao apresentarem explicações fundamentadas em princípios para o comportamento da
natureza, os pré-socráticos chegam ao que pode ser considerada uma importante
diferença em relação ao pensamento mítico.
Nas explicações míticas, o explicador é tão
desconhecido quanto à coisa explicada. Ex: se a causa de uma doença é a ira
divina, explicar a doença pela ira divina não nos ajuda muito a entender porque
há doença. As explicações por princípios definidos e observáveis por todos os
que têm razão (e não apenas por sacerdotes, como ocorre no pensamento mítico),
tais como as apresentadas pelos pré-socráticos, permitem que apresentemos
explicadores que de fato aumentam a compreensão sobre aquilo que é explicado. Talvez seja na diferença em relação ao pensamento
mítico que vejamos como a filosofia de origem europeia, na sua meta de buscar
explicadores menos misteriosos do que a coisa explicada tenha levado ao
desenvolvimento da ciência contemporânea. Desde o início, isto é, desde os
pré-socráticos vemos a semente da meta cartesiana de controlar a natureza.
Na história do pensamento ocidental, a Filosofia
nasce na Grécia por volta do séc. VI a.c. Por meio de um longo processo
histórico, surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional
sem, entretanto, romper bruscamente com todos os conhecimentos do passado.
Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos (pré-socráticos)
compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o
conhecimento racional que caracterizava a filosofia.
Essa passagem do mito à razão significa
precisamente que já havia, de um lado, uma lógica do mito e que, de outro lado
na realidade filosófica ainda está incluído o poder mítico. Em outras palavras,
a filosofia grega nasceu procurando desenvolver os Jogos (saber racional) em
contraste com o mito (saber alegórico- pensamento sob forma figurada,
metáforas).
Principais
diferenças entre mito e Filosofia:
MITO
|
FILOSOFIA
|
A lógica do mito repousa em ambivalência
|
Ruptura
com a lógica da ambivalência
|
Crenças e lendas que, de modo simbólico fornecem
explicações para a realidade.
|
Pensamento positivo que inclui o sobrenatural (não
há inferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos)
|
Relatos maravilhosos (explicações fantásticas narradas)
|
Racionalidade (explicações baseadas na razão)
|
Natureza e sociedade estão confundidas
|
Os elementos da natureza estão separados da
sociedade
|
Tradição dogmática (relatos passados de gerações
para gerações e ditos como verdades inquestionáveis)
|
Pluralidade de explicações possíveis (admite
várias explicações e todas podem ser questionadas)
|
O
nascimento da Filosofia está vinculado principalmente à (ao): Surgimento e organização da Polis
(Cidade-Estado)
·
Revolução
provocada pelo surgimento da moeda (desenvolvimento da economia)
·
Surgimento
da lei escrita (documentação histórica)
·
Desmistificação
do mundo através das viagens marítimas.
Um
exemplo da transição do pensamento mítico para a filosofia cientifica foi na
pergunta pioneira de Tales de Mileto,'qual é a origem suprema, a causa
última, da origem dos fatos?'. A essa pergunta, ele respondeu de uma forma
não muito inteligente, dizendo que os elementos primordiais das coisas são a água,
o ar, a terra e o fogo. Logo, ele via que o ar, a terra e
o fogo vinham de um fator comum: a água. Então, a origem primeira do
mundo e do universo seria a água. Em sua resposta, podemos ver também a
presença mitológica. É sabido que a mitologia antiga venerava a água como
origem das coisas. Também de Mileto, Aleximandro, que nasceu poucos anos depois
de Tales, deu à sua pergunta uma reposta mais convincente. Disse que tudo o que
vemos e sentimos é definido, e tudo o que é definido tem uma outra origem, foi
formado de outra cousa. Ou seja, o que é determinado também tem causas
anteriores. Logo, é algo indeterminado (a que ele chamou de princípio) o que
deu origem ao universo. Continuava ele com o seguinte princípio, de que esse
indeterminado, devido ao seu eterno movimento, se divide em dois opostos, como,
por exemplo, o seco e o úmido. Os três primeiros filósofos foram de Mileto,
sendo eles Tales, Aleximandro e Alexímedes. Deles, pouca
coisa tem em escrito, e suas obras já não mais existem.
Noções fundamentais do pensamento
filosófico científico.
A physis
O objetivo de investigação dos primeiros
filósofos-cientistas é o mundo natural; sendo que suas teorias buscam dar uma
explicação causal dos processos e dos fenômenos naturais a partir de causas
puramente naturais, isto é, encontráveis na natureza, no mundo concreto e não
no divino como nas explicações míticas.
A causalidade
Explicar é relacionar um efeito a uma causa que o
antecede e o determina. Explicar é, portanto, reconstruir o nexo causal
existente entre os fenômenos da natureza, é tomar um fenômeno como efeito de
uma causa. O que distingue a
explicação filosófica científica da mítica é a referência apenas a causas
naturais.
A explicação causal possui, entretanto, um caráter
regressivo. Ou seja, explicamos sempre uma coisa por outra e há assim a
possibilidade de se ir buscando uma causa anterior, mais básica, até o
infinito.
A arqué (elemento
primordial)
A fim de evitar a regressão ao infinito da
explicação causal, esses filósofos postularam a existência de um elemento
primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo. Tales foi o
primeiro a formular essa noção, afirmava ele ser a água (hydor) o
elemento primordial. Porém, o importante na contribuição de Tales não é a
escolha da água, mas a própria idéia de elemento primordial.
A importância da noção de arqué está
exatamente na tentativa por parte desses filósofos de apresentar uma explicação
da realidade em um sentido mais profundo, tal princípio daria precisamente o
caráter geral a esse tipo de explicação, permitindo considerá-la como
inaugurando a ciência.
O cosmo
O cosmo é o mundo natural, bem como o espaço
celeste, enquanto realidade ordenada de acordo com certos princípios racionais.
O cosmo, entendido assim como ordem, opõe-se ao caos (kaos), que seria
precisamente a falta de ordem. É importante notar que a ordem do cosmo é uma
ordem racional, é a racionalidade deste mundo que o torna compreensível, por
sua vez, ao entendimento humano.
O logos
O logos significa discurso, mas ele difere
fundamentalmente do mythos, a narrativa de caráter poético que recorre
aos deuses e ao mistério na descrição do real. O logos é
fundamentalmente uma explicação, em que razões são dadas. É nesse sentido que o
discurso dos primeiros filósofos é um logos.
O caráter crítico
As teorias formuladas pelos primeiros filósofos não
eram de forma dogmática, não eram apresentadas como verdades absolutas e
definitivas, mas como passíveis de serem discutidas, de suscitarem divergências
e discordância.
1. O que é o mítico? Dê
um exemplo:
2. Que acontecimentos
influenciaram o nascimento da filosofia?
3. Quem foi o primeiro
filósofo pré- socrático?
4. Como se deu a passagem
do pensamento mítico para o pensamento filosófico?
5. Quem eram os
pensadores pré- socráticos?
6. Aponte as principais
características do pensamento mítico:
7. Contraste as
características do pensamento mítico com as do pensamento filosófico
científico:
8. O que levou ao
rompimento do pensamento mítico do filosófico científico?
9. Aponte na sociedade
atual algum pensamento ou ideia que se aproxime do pensamento mítico:
9.
(FCC-SP) O surgimento da filosofia entre os gregos está associado à passagem do
pensamento mítico ao pensamento racional. Nesse processo, confrontaram-se dois
modos diferentes de explicar o cosmos, a saber:
(A)
astrologia e lógica.
(B)
teologia e racionalismo.
(C)
cosmogonia e cosmologia.
(D)
sofística e dialética.
(E)
astrologia e astronomia.
10. A
Filosofia nascente é grega, isto é, surgiu na Grécia no século V antes de
Cristo. É atribuída a Pitágoras a invenção da palavra Filosofia, que é a junção
de philos (amor) e sophia (sabedoria), significando amor à sabedoria. É
considerado primeiro filósofo:
(A) O
próprio Pitágoras, já que foi ele quem criou o nome Filosofia.
(B)
Parmênides de Eléia.
(C)
Tales, da Escola de Mileto.
(D)
Aristóteles.
11. A fim de evitar a regressão ao infinito da explicação causal, o que a tornaria insatisfatória, os primeiros filósofos vão postular a existência de um elemento primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo.
Tal
elemento primordial:
(A)
Era
chamado de arqué e o primeiro a formular tal noção foi Tales, elegendo para tal
a água.
(B)
Era
chamado de physis, uma vez que cada filósofo da época elegeu um elemento físico
natural como princípio.
(C) Só poderia ser um princípio
abstrato, significando algo indefinido, subjacente à própria natureza.
(D) Trata-se do átomo postulado por Demócrito.
13. A Filosofia surge na Grécia antiga possibilitada por certas condições materiais, ou seja, sociais, políticas, econômicas e históricas. Sobre tais condições que possibilitaram o surgimento da Filosofia é correto afirmar que:
(D) Trata-se do átomo postulado por Demócrito.
13. A Filosofia surge na Grécia antiga possibilitada por certas condições materiais, ou seja, sociais, políticas, econômicas e históricas. Sobre tais condições que possibilitaram o surgimento da Filosofia é correto afirmar que:
(A) A invenção do calendário
possibilitou uma capacidade de abstração, ou uma percepção do tempo como algo
sobrenatural e incompreensível.
(B) A invenção da moeda, que
permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou
dos objetos concretos trocados por semelhança, mas por uma troca abstrata, uma
troca feita pelo cálculo do valor semelhante das cosas diferentes, revelando
uma capacidade de abstração e generalização, atributos importantes para se
filosofar.
(C) As viagens marítimas produziram o encantamento ou a mistificação do mundo, que são aspectos importantes do pensamento para a Filosofia nascente.
(D) Na verdade, o surgimento da Filosofia deveu-se mais aos sábios da época.
(C) As viagens marítimas produziram o encantamento ou a mistificação do mundo, que são aspectos importantes do pensamento para a Filosofia nascente.
(D) Na verdade, o surgimento da Filosofia deveu-se mais aos sábios da época.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Ed.
Ática, São Paulo, 2000.
DANILO, Marcondes. Iniciação
a história da filosofia: dos Pré-socráticos a Wittgenstein. 9ª. Rio de Janeiro, Ed. Jorge Zahar, 2005.
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