segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CONCEITO DE IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO



CONCEITOS DE IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO

Ideologia e alienação tratam-se de conceitos que comumente são utilizados com diferentes sentidos. Holanda (1999) cita os seguintes significados para o conceito de ideologia:

1. Ciência da formação das idéias; tratado das idéias em abstrato; sistema de idéias.
2. Filos. Conjunto articulado de idéias, valores, opiniões, crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) seja qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores.
3. Polít. Sistema de idéias dogmaticamente organizado como um instrumento de luta política.
4. Conjunto de idéias próprias de um grupo, de uma época, e que traduzem uma situação histórica.

Marilena Chauí (1980) descreve de uma maneira ampla o conceito de ideologia:

A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos)de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção.(p. 113).

Para Aranha & Martins (1993), ideologia trata-se do “conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão” , e esta se realiza através de uma “(...) organização sistemática dos conhecimentos destinados a orientar a ação efetiva.” (p. 36). A ideologia, para os autores, contêm as seguintes características:

-constitui um corpo sistemático de representações  que nos “ensinam” a pensar e de normas  que nos “ensinam” a agir;
-tem como função assegurar determinada relação dos homens entre si e com suas condições de existência, adaptando  os indivíduos às tarefas prefixadas pela sociedade;
- para tanto, as diferenças de classe e os conflitos sociais são camuflados, ora com a descrição da “sociedade una e harmônica, ora com a justificação das diferenças existentes”;
-com isso é assegurada a coesão  dos homens e a aceitação sem críticas  das tarefas mais penosas e pouco recompensadoras, em nome da “vontade de Deus” ou do “dever moral” ou simplesmente como decorrente da “ordem natural das coisas”; 
-em última instância, tem a função de manter a dominação de uma classe sobre outra. (p. 37).

Visto como um produto da classe dominante, a ideologia possui um caráter ilusório, procurando explicar a realidade através de suas conseqüências, ocultando as reais causas.
Aranha & Martins (1993), dizem que:

A ideologia é ilusória, não no sentido de ser ‘falsa’ ou ‘errada’, mas enquanto uma aparência que oculta a maneira pela qual a realidade social foi produzida. (...) A ideologia mostra uma realidade invertida, ou seja, o que seria a origem  da realidade é posto como produto  e vice versa; o que é efeito passa a ser considerado causa, o que é determinado é tido como determinante. (p. 38)
           
O sentido a ser empregado neste trabalho se aproxima ao que se relaciona com um “(...) amplo sistema de conceitos e crenças, muitas vezes de natureza política, que defende um grupo ou um indivíduo”  (Enciclopédia Encarta, 2001).
            Ideologia trata-se de um conjunto de idéias, modos de pensar e de se relacionar para com os valores, as crenças, os costumes, as normas e os modos de encarar os fatos de certos grupos de pessoas da sociedade. Furter (1976) comenta que a ideologia burguesa opera com o poder das classes dirigentes, através da reprodução de seus interesses, alienando as outras classes, e impedindo que estas tomem a consciência de tal processo. Ele trata a ideologia fragmentária, onde “a ideologia é fragmentária, isto é, sempre é elaborada em função de objetivos concretos”  (58p.). Para tanto, as classes dominantes “(...) favorecem a elaboração de ideologias que justificam o status quo e impedem a tomada de consciência autêntica”  (53p.). Estas ideologias alienam pois, de acordo com o mesmo, “quebram a unidade dialética do pensar e do atuar”  (53p.).
            Alienação trata-se de outro conceito que resulta em diferentes compreensões. Quando referimos à pessoas alienadas, no senso comum, associamos à pessoas desligadas,usuários de drogas, pessoas com desconhecimento ou desinteresse com relação aos assuntos relatados nos jornais, entre outras conotações que, em geral, referem-se ao desligamento da pessoa com o que é visto como algo que seria, inicialmente, parte da vida dela. No caso dos exemplos acima citados, poderiam ser, por exemplo, desligamento da sua consciência através do uso de drogas ou desligamento de assuntos que são socialmente vistos como de importância.
            Em ambos os casos, tratam o conceito de alienação como algo que a pessoa deveria ter - consciência de si ou do que é relatado nos jornais, no caso do exemplo acima citado – e que esta, de alguma maneira, não se importa em ter. No caso deste trabalho, a alienação será tratada como o desligamento da pessoa de si mesma, de sua existência e isso é visto como consequência de uma ideologia que faz com que este se torne submisso a mesma, passando para si desejos alheios, sentimentos alheios, normas alheias, pensamentos alheios, e toda uma existência alheia. Assim, o indivíduo torna-se alheio a si, para dar espaço ao que é trazido pelos outros, neste processo, “o eu desaparece”  (BASBAUM, 1982, 46p.).
Percorrendo o Dicionário Aurélio, Holanda (1999), foram estabelecidas relações entre conceitos na tentativa de descrever o termo alienação. Verificou-se, as ligações: alienação =alheação, indiferença; indiferença = desatenção, frieza, desinteresse, apatia; apatia =indolência, preguiça, antônimo de vivacidade; vivacidade = qualidade do que é vivo, ativo, enérgico; vivo = o que não está morto; morto = que deixou de existir.
 De acordo com Codo (1986), “O homem alienado é o homem desprovido de si mesmo. Se a história distancia o homem do animal, a alienação re-animaliza o homem”. (8p).
Se através da alienação o homem torna-se alheio de si, este deixa de pertencer a si mesmo,
“(...) o homem perde não apenas a identidade de si mesmo, a consciência de si, mas passa a pertencer ao objeto, à coisa, ao outro”  (BASBAUM, 1982, 17p.). 

Diz-se ainda que o homem está alienado quando deixa de ser seu próprio objeto para se tornar objeto de outro. Deixa de ser algo para si mesmo. Sua vontade é assim a vontade de outro: ele é coisificado. Deixa de ser homem, criatura consciente e capaz de tomar decisões, para se tornar coisa, objeto. (Basbaum, 1982, 18p.)

Marx & Engels (2002) comenta que o trabalho é um processo onde o indivíduo altera o meio e, por consequência, o meio altera a si mesmo. O sujeito que realiza um trabalho artesanal, que não por carteira registrada, não segue ordens de uma empresa, não possui supervisão de seu chefe, mas, por sua supervisão, por sua vontade, por sua necessidade este imprime no seu produto de trabalho a sua imagem, a sua vida, o seu sentimento. Cada trabalho artesanal possui uma imagem, nenhum fica exatamente igual, e todos os produtos acabam possuindo características de quem os produziu, assim como diferentes quadros que possuem características de diferentes pintores, onde se vê “(...) em cada objeto o rosto de quem o produzira”  (ALVES, 2001, 35p.). Alves (2001) comenta que “(...) o operário, ao ver o objeto que produzira, tinha de ver o seu próprio rosto refletido nele. Cada objeto tem de ser um espelho, tem de ter a cara daquele que o produziu”  (34p.), pois, cada um de nós, somos seres humanos únicos. 
Mas, com a alienação, acontece o contrário, Codo (1986), partindo duma visão marxista, relaciona a alienação com o trabalho, descrevendo que o operário é alienado em sua produção, no caso de uma produção em série, pois, o operário faz parte de um sistema onde cada um produz uma parte do produto, esse produto não possui nenhuma semelhança consigo mesmo, e, muitas vezes, nem o próprio produtor consome o produto.
“No trabalho, organizado na sociedade capitalista, ocorre uma ruptura, uma cisão, um divórcio entre o produto e o produtor, o trabalhador produz o que não consome, consome o que não produz”  .(CODO, 1986, 19p). Alves (2001) comenta que “operários que trabalham em linha de montagem não assinam suas obras (porque não são deles) nem veem seu rosto refletido nelas”  (35p.), na alienação o homem não se percebe como produtor de sua cultura, tornando se produto duma cultura alheia.
 Para Basbaum (1982), o trabalho e a educação são os fatores essenciais da alienação: “Pelo trabalho, o homem se aliena. Pela educação, preparam - no para a alienação. A educação é assim a maior arma de que dispõem os senhores da propriedade privada, para que tudo continue como está”. (BASBAUM, 1982, 41p.). Este processo que faz com que as pessoas façam o que é proposto pela ideologia dominante também faz com que acreditem e sigam como se somente esta fosse a certa.

Homens e mulheres que vão para o trabalho, no qual empenham sua própria vida para gozo de outros; jovens que vão para a guerra para serem mortos, sabendo que vão morrer, até com certa satisfação, acreditando que vão defender a civilização ocidental e cristã. E homens que se prestam ao papel de ensinar aos jovens que tudo isso é muito certo e muito justo. (Basbaum, 1982, 39p.)
           
De acordo com Basbaum (1982), as máquinas de alienação são, em primeiro, a família e em segundo, a escola, ele comenta que o antídoto para a alienação seria a rua, pois a família, a escola e o trabalho são instituições que estão a serviço da alienação, se a situação das instituições continuar como se encontra, a marginalização será o único meio de se livrar da alienação.

(...) o único lugar em que a criança, o adolescente, o jovem, se encontra realmente livre. Só a rua permite ao jovem alimentar esse instinto natural de liberdade que, em casa e na escola, é cerceado de todas as maneiras. É na rua que ele tem oportunidade de formar sua personalidade, de libertar-se das pressões da família e da escola. É na rua, conhecendo outros jovens da mesma idade e de todos os temperamentos, que ele começa a conhecer a vida. É na rua que ele realmente vive. (1982, 47p.)


Fonte:
CARRSCO, Bruno Barbedo. Cap. Conceito de Ideologia e Alienação. In. Alienação na Escola. Pag.08-11. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/17117667/Alienacao-na-Escola-Bruno-Carrasco
 

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