CONCEITOS DE IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO
Ideologia e alienação tratam-se de conceitos que comumente
são utilizados com diferentes sentidos. Holanda (1999) cita os seguintes
significados para o conceito de ideologia:
1. Ciência da formação das idéias;
tratado das idéias em abstrato; sistema de idéias.
2. Filos. Conjunto articulado de idéias, valores, opiniões,
crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a
determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) seja
qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores.
3. Polít. Sistema de idéias dogmaticamente organizado como
um instrumento de luta política.
4. Conjunto de idéias próprias de um grupo, de uma época, e
que traduzem uma situação histórica.
Marilena Chauí (1980) descreve de uma maneira ampla o
conceito de ideologia:
A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de
representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que
indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem
pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como
devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo
explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos)de caráter
prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma
sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças
sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão
da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção.(p. 113).
Para Aranha & Martins (1993),
ideologia trata-se do “conjunto de idéias,
concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão” ,
e esta se realiza através de uma “(...) organização
sistemática dos conhecimentos destinados a orientar a ação efetiva.” (p.
36). A ideologia, para os autores, contêm as seguintes características:
-constitui um corpo sistemático de
representações que nos “ensinam” a pensar e de normas que nos
“ensinam” a agir;
-tem como função assegurar determinada relação dos homens
entre si e com suas condições de existência, adaptando os indivíduos às
tarefas prefixadas pela sociedade;
- para tanto, as diferenças de classe e os conflitos sociais
são camuflados, ora com a descrição da “sociedade una e harmônica, ora com a
justificação das diferenças existentes”;
-com isso é assegurada a
coesão dos homens e a aceitação sem críticas das tarefas mais
penosas e pouco recompensadoras, em nome da “vontade de Deus” ou do “dever
moral” ou simplesmente como decorrente da “ordem natural das coisas”;
-em última instância, tem a função de manter a dominação de
uma classe sobre outra. (p. 37).
Visto como um produto da classe dominante, a ideologia
possui um caráter ilusório, procurando explicar a realidade através de suas
conseqüências, ocultando as reais causas.
Aranha & Martins (1993), dizem que:
A ideologia é ilusória, não no
sentido de ser ‘falsa’ ou ‘errada’, mas enquanto uma aparência que oculta a
maneira pela qual a realidade social foi produzida. (...) A ideologia mostra
uma realidade invertida, ou seja, o que seria a origem da realidade é
posto como produto e vice versa; o que é efeito passa a ser considerado
causa, o que é determinado é tido como determinante. (p. 38)
O sentido a ser empregado neste
trabalho se aproxima ao que se relaciona com um “(...) amplo sistema de conceitos e crenças, muitas vezes de natureza
política, que defende um grupo ou um indivíduo” (Enciclopédia
Encarta, 2001).
Ideologia trata-se de um conjunto de
idéias, modos de pensar e de se relacionar para com os valores, as crenças, os
costumes, as normas e os modos de encarar os fatos de certos grupos de pessoas
da sociedade. Furter (1976) comenta que a ideologia burguesa opera com o poder das
classes dirigentes, através da reprodução de seus interesses, alienando as
outras classes, e impedindo que estas tomem a consciência de tal processo. Ele
trata a ideologia fragmentária, onde “a
ideologia é fragmentária, isto é, sempre é elaborada em função de
objetivos concretos” (58p.). Para tanto, as classes dominantes
“(...) favorecem a elaboração de ideologias
que justificam o status quo e impedem a tomada de consciência autêntica”
(53p.). Estas ideologias alienam pois, de acordo com o mesmo, “quebram a
unidade dialética do pensar e do atuar” (53p.).
Alienação trata-se de outro conceito
que resulta em diferentes compreensões. Quando referimos à pessoas alienadas,
no senso comum, associamos à pessoas desligadas,usuários de drogas, pessoas com
desconhecimento ou desinteresse com relação aos assuntos relatados nos jornais,
entre outras conotações que, em geral, referem-se ao desligamento da pessoa com
o que é visto como algo que seria, inicialmente, parte da vida dela. No caso
dos exemplos acima citados, poderiam ser, por exemplo, desligamento da sua
consciência através do uso de drogas ou desligamento de assuntos que são
socialmente vistos como de importância.
Em ambos os casos, tratam o conceito
de alienação como algo que a pessoa deveria ter - consciência de si ou do que é
relatado nos jornais, no caso do exemplo acima citado – e que esta, de alguma
maneira, não se importa em ter. No caso deste trabalho, a alienação será
tratada como o desligamento da pessoa de si mesma, de sua existência e isso é
visto como consequência de uma ideologia que faz com que este se torne submisso
a mesma, passando para si desejos alheios, sentimentos alheios, normas alheias,
pensamentos alheios, e toda uma existência alheia. Assim, o indivíduo torna-se
alheio a si, para dar espaço ao que é trazido pelos outros, neste processo, “o eu desaparece” (BASBAUM, 1982, 46p.).
Percorrendo o Dicionário Aurélio, Holanda (1999), foram
estabelecidas relações entre conceitos na tentativa de descrever o termo
alienação. Verificou-se, as ligações: alienação =alheação, indiferença;
indiferença = desatenção, frieza, desinteresse, apatia; apatia =indolência,
preguiça, antônimo de vivacidade; vivacidade = qualidade do que é vivo, ativo, enérgico;
vivo = o que não está morto; morto = que deixou de existir.
De acordo com Codo (1986), “O homem alienado é o homem desprovido de
si mesmo. Se a história distancia o homem do animal, a alienação
re-animaliza o homem”. (8p).
Se através da alienação o homem torna-se alheio de si, este
deixa de pertencer a si mesmo,
“(...)
o homem perde não apenas a identidade de si mesmo, a consciência de si, mas
passa a pertencer ao objeto, à coisa, ao outro” (BASBAUM, 1982,
17p.).
Diz-se ainda que o homem está
alienado quando deixa de ser seu próprio objeto para se tornar objeto de outro.
Deixa de ser algo para si mesmo. Sua vontade é assim a vontade de outro: ele é
coisificado. Deixa de ser homem, criatura consciente e capaz de tomar decisões,
para se tornar coisa, objeto. (Basbaum, 1982, 18p.)
Marx & Engels (2002) comenta que o trabalho é um
processo onde o indivíduo altera o meio e, por consequência, o meio altera a si
mesmo. O sujeito que realiza um trabalho artesanal, que não por carteira
registrada, não segue ordens de uma empresa, não possui supervisão de seu
chefe, mas, por sua supervisão, por sua vontade, por sua necessidade este
imprime no seu produto de trabalho a sua imagem, a sua vida, o seu sentimento.
Cada trabalho artesanal possui uma imagem, nenhum fica exatamente igual, e
todos os produtos acabam possuindo características de quem os produziu, assim
como diferentes quadros que possuem características de diferentes pintores,
onde se vê “(...) em cada objeto o rosto
de quem o produzira” (ALVES, 2001, 35p.). Alves (2001)
comenta que “(...) o operário, ao ver
o objeto que produzira, tinha de ver o seu próprio rosto refletido nele.
Cada objeto tem de ser um espelho, tem de ter a cara daquele que o
produziu” (34p.), pois, cada um de nós, somos seres humanos
únicos.
Mas, com a alienação, acontece o contrário, Codo (1986),
partindo duma visão marxista, relaciona a alienação com o trabalho, descrevendo
que o operário é alienado em sua produção, no caso de uma produção em série,
pois, o operário faz parte de um sistema onde cada um produz uma parte do
produto, esse produto não possui nenhuma semelhança consigo mesmo, e, muitas
vezes, nem o próprio produtor consome o produto.
“No trabalho, organizado na sociedade
capitalista, ocorre uma ruptura, uma cisão, um divórcio entre o produto e
o produtor, o trabalhador produz o que não consome, consome o que
não produz” .(CODO, 1986, 19p). Alves (2001)
comenta que “operários que trabalham em linha de montagem não assinam suas obras (porque não são deles) nem veem seu
rosto refletido nelas” (35p.), na alienação o homem não se
percebe como produtor de sua cultura, tornando se produto duma cultura alheia.
Para
Basbaum (1982), o trabalho e a educação são os fatores essenciais da alienação:
“Pelo trabalho, o homem se aliena. Pela educação, preparam - no para
a alienação. A educação é assim a maior arma
de que dispõem os senhores da propriedade privada, para que tudo continue
como está”. (BASBAUM, 1982, 41p.). Este processo que faz com que as pessoas
façam o que é proposto pela ideologia dominante também faz com que acreditem e sigam
como se somente esta fosse a certa.
Homens e mulheres que vão para o trabalho, no qual empenham
sua própria vida para gozo de outros; jovens que vão para a guerra para serem
mortos, sabendo que vão morrer, até com certa satisfação, acreditando que vão defender
a civilização ocidental e cristã. E homens que se prestam ao papel de ensinar
aos jovens que tudo isso é muito certo e muito justo. (Basbaum, 1982, 39p.)
De acordo com Basbaum (1982), as máquinas de alienação são,
em primeiro, a família e em segundo, a escola, ele comenta que o antídoto para
a alienação seria a rua, pois a família, a escola e o trabalho são instituições
que estão a serviço da alienação, se a situação das instituições continuar como
se encontra, a marginalização será o único meio de se livrar da alienação.
(...) o único lugar em que a criança, o adolescente, o
jovem, se encontra realmente livre. Só a rua permite ao jovem alimentar esse
instinto natural de liberdade que, em casa e na escola, é cerceado de todas as
maneiras. É na rua que ele tem oportunidade de formar sua personalidade, de
libertar-se das pressões da família e da escola. É na rua, conhecendo outros
jovens da mesma idade e de todos os temperamentos, que ele começa a conhecer a vida.
É na rua que ele realmente vive. (1982, 47p.)
Fonte:
CARRSCO,
Bruno Barbedo. Cap. Conceito de Ideologia e Alienação. In. Alienação na Escola.
Pag.08-11. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/17117667/Alienacao-na-Escola-Bruno-Carrasco
Muito Bom!
ResponderExcluirmuito bom!
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