C. E. PAULO
FREIRE. – Professor Antonio Nelson – Disciplina – Filosofia – 1ª Serie – Ensino
Médio.
Senso comum.
Na filosofia, o senso comum (ou conhecimento
vulgar) é a primeira suposta compreensão do mundo
resultante da herança fecunda de um grupo social e das experiências atuais que
continuam sendo efetuadas. O senso comum descreve as crenças e proposições que
aparecem como normal, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar
verdades mais profundas como as científicas.
Um tipo de conhecimento que se acumula
no nosso cotidiano e é chamado de senso comum, baseado na tentativa e no erro.
O senso comum que nos permite sentir uma realidade menos detalhada, menos
profunda e imediata e vai do hábito de realizar um comportamento até a tradição
que, quando instalada, passa de geração para geração.
No senso comum não há análise profunda
e sim uma espontaneidade de ações relativa aos limites do conhecimento do
indivíduo que vão passando por gerações; o senso comum é o que as pessoas
comuns usam no seu cotidiano, o que é natural e fácil de entender, o que elas
pensam que seja verdade e que lhe traga resultados práticos herdados pelos
costumes.
Existem pessoas que confundem senso
comum com crença, embora sejam coisas bem diferentes.
Senso comum é aquilo que aprendemos em nosso dia a dia e que não precisamos
aprofundar para obter resultados, como por exemplo: uma pessoa vai atravessar
uma pista; ela olha para os dois lados, mas não precisa calcular a velocidade
média, a distância, ou o atrito que o carro exerce sobre o solo. Ela
simplesmente olha e decide se dá para atravessar ou se deve esperar. Logo, o
senso comum é um ato de agir e pensar que tem raízes culturais e sociais.
O senso
comum é visto como a compreensão de todas as coisas
por meio do saber social, ou seja, é o saber que se adquire através de
experiências vividas ou ouvidas do cotidiano. Englobam costumes, hábitos,
tradições, normas, éticas e tudo aquilo que se necessita para viver bem.
No senso
comum não é necessário que haja um parecer científico para que se comprove o
que é dito, é um saber informal que se origina de opiniões de um determinado
indivíduo ou grupo que é avaliado conforme o efeito que produz nas pessoas. É
um saber imediato, subjetivo, heterogêneo e acrítico, pois se conforma com o
que é dito para se realizar, utiliza várias ideias e não busca conhecimento científico para ser comprovado.
De maneira
espontânea e sem querer as pessoas utilizam o senso comum a quase todo o
momento:
O senso
comum difere-se em alguns aspectos com a ciência, pois a ciência busca a
verdade em todas as coisas por meio de testes e comprovações, enquanto o senso
comum é utilizado antes mesmo que se saiba se o método empregado traz o que se espera. A ciência é
objetiva, busca critérios, avalia, busca leis de funcionamento, reúne a
individualidade existente em cada lei para formar uma só estrutura e isso sem
procurar semelhança entre elas, se renova se modifica e busca sempre se firmar
no conhecimento.
Doxa
x Episteme.
Doxa é uma palavra grega
que significa crença comum ou opinião
popular e de onde se originaram as palavras modernas ortodoxo e heterodoxo.
Utilizada pelos retóricos gregos como ferramenta para formação de argumentos através de opiniões
comuns, a doxa (em oposição ao saber verdadeiro, episteme) foi
utilizada pelos sofistas
para persuadir as pessoas, levando Platão a
condenar a democracia ateniense.
Episteme: 1) conhecimento (verdadeiro e científico) (oposto a
doxa); 2) um corpo organizado de conhecimento,
uma ciência; 3) conhecimento teorético. Segundo o platonismo, designa o
conhecimento verdadeiro, racional e científico, em contrapartida à opinião
infundada ou irrefletida.
Segundo o filósofo francês Michel Foucault
(1926 - 1994), episteme é o paradigma comum aos diversos saberes humanos em uma
determinada época que, por se embasarem numa mesma estrutura, compartilham as
mesmas características gerais, independentemente de suas diferenças
específicas.
Reflexão
Filosófica e Atitude Filosófica.
Reflexão
significa
movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A
reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo,
interrogando a si mesmo.
A
reflexão filosófica é tida como radical porque é um movimento de volta
do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é
possível o próprio pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos
também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos,
com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos
essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.
A
reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a
realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas
relações. A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos
de perguntas ou questões:
01. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e
fazemos o que fazemos?
02. O que queremos pensar quando pensamos o que queremos dizer
quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo
ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?
03. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos,
fazemos o que fazemos? Isto é, qual a intenção ou a finalidade do
que pensamos, dizemos e fazemos?
Essas
três questões podem ser resumidas em: o que é pensar, falar e agir? E elas
pressupõem a seguinte pergunta: nossas crenças cotidianas são ou não um saber
verdadeiro, um conhecimento? A atitude filosófica inicia-se indagando: o que é?
Como é? Por que é? Dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que
nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação
ou a estrutura e a origem de todas as coisas.
A
reflexão filosófica, por sua vez, indaga: por quê? O quê? Para quê? Dirigindo-se
ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade
e a finalidade humanas para conhecer e agir.
A atitude filosófica
não é uma atitude natural. Qualquer indivíduo de forma imediata face à
realidade não começa a examiná-la de forma especulativa. Pelo contrário, o que
é natural é que se sentem na resolução problemas práticos, que se guie pelo senso comum, tendo em vista resolver certas necessidades
imediatas ou interesses concretos (atitude natural). Ninguém pode viver sem se
adaptar constantemente às condições do seu mundo. Estas exigências de
sobrevivência tendem, naturalmente a sobrepor-se a todas as outras
preocupações.
Embora o homem seja inseparável das suas circunstâncias,
não pode todavia ser reduzido a uma mero produto das mesmas. Ele está
permanentemente a ser confrontado com novos problemas que o colocam
perante novas situações imprevisíveis, e que o obrigam a alargar os seus
horizontes de compreensão da realidade. Cada mudança pode representar, assim,
uma nova possibilidade para ampliar o conhecimento. Trata-se de uma
possibilidade, não algo que necessariamente tenha que acontecer a todos
os homens nas mesmas circunstâncias e em todas as ocasiões.
Estas mudanças
frequentemente inquietam-nos ou maravilham-nos, despertando a nossa curiosidade
sobre o porquê das coisas, levando-nos a questionar o que nos rodeia. Ao
fazê-lo estamos a distanciarmo-nos da realidade, que de repente se tornou
estranha ou mesmo enigmática. Esta atitude reflexiva, pode-nos conduzir a uma
atitude mais radical, a atitude filosófica.
A atitude filosófica
se decorre do quotidiano, não é todavia ao mesmo redutível. Não é fácil
caracterizá-la, dada a enorme diversidade de aspectos que pode assumir. Vejamos
apenas quatro aspectos que caracterizam a atitude filosófica:
O espanto. Aristóteles afirmava que a filosofia
tinha a sua origem no espanto, na estranheza e perplexidade que os homens
sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É o espanto que os leva a
formularem perguntas e os conduz à procura das respectivas soluções. Como
refere Eugen Fink o espanto torna o evidente em algo incompreensível, o vulgar
extraordinário.
A duvida. Ao filósofo exige-se que duvide de tudo
aquilo é assumido como uma verdade adquirida. Ao duvidar este se distancia das
coisas, quebrando desta forma a sua relação de familiaridade com as coisas. O
que era natural torna-se problemático. O que então emerge é uma dimensão
inquietante de insatisfação e problematização. A reflexão começa exatamente a
partir do exame daquilo que se pensa ser verdadeiro. Se nunca duvidarmos
de nada nunca saberes o fundamento daquilo em que acreditamos, mas também
jamais pensaremos pela nossa cabeça.
O rigor. O questionamento radical que anima o
verdadeiro filósofo, não é mais do que um ato preparatório para fundar um novo
saber sobre bases mais sólidas. A crítica filosófica é por isso radical, não
admite compromissos com as ambiguidades, as ideias contraditórias, os termos
imprecisos.
A insatisfação. A filosofia revela-se uma desilusão
para quem quiser encontrar nela respostas para as suas inquietações. O que o
aprendiz de filósofo encontra na filosofia são perguntas, problemas e
incitamentos para que não confie em nenhuma autoridade exterior à sua razão,
para que duvide das aparências e do senso comum. A única "receita"
que os filósofos lhe dão é que faça da procura do saber um modo de vida. Não se
satisfaça com nenhuma conclusão, queira saber sempre mais e mais.
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